[Tradução] Hanabun.press - "It’s time to go Jane Marple" por Novala Takemoto
Hanabun Press é um jornal japonês gratuito e online derivado do antigo "Hanagata bunka tsūshi"(花形文化通信), que foi distribuído (também gratuitamente) até o fim dos anos 90 no Japão. Novala Takemoto, responsável por obras como Kamikaze Girls, tem uma coluna no jornal online na qual geralmente escreve sobre a Moda Lolita como um todo, bem como suas impressões, publicações etc.
No post de hoje trago para vocês a tradução de um artigo chamado "It's time to go Jane Marple" na qual ele fala não apenas da marca, mas traz também alguns insights interessantes sobre o surgimento do nome "Lolita" para a moda (que é bem explicado no seu livro Patchwork).
Vamos lá!
Vol.9 - It's time to go Jane Marple
12.05.2019 - Novala Takemoto
Já tem um tempo que não posto aqui, não é? Recentemente tenho estado fissurado com Jane Marple.
Nos romances de Agatha Christie há uma senhora - Miss Marple -, que trabalha como detetive em seu tempo de folga e habita a vila ficcional de St.Mary Mead. Foi com essa inspiração que Megumi Murano, antiga designer da MILK, lançou sua própria marca (Jane Marple) em 1985.
Apesar de ser muito popular entre as lolitas, tanto Jane Marple quanto a MILK nunca se mostraram favoráveis com esse rótulo para suas roupas. O que isso significa? Bem, como você provavelmente já sabe, MILK e Jane Marple não costumam tomar partido de revistas focadas na Moda Lolita (N/T: Gothic and Lolita Bible, por exemplo). Elas até aceitam o título de Moda Feminina (ガーリー), mas para Lolita a coisa não funciona tão bem assim...
Mas afinal, por que o termo Lolita veio para a moda em primeiro lugar?
A imagem de uma garota com o pirulito vermelho e de óculos de coração era muito estilosa e descolada. Acredito que a pessoa que nomeou a moda como tal tinha era esse pôster em mente, e não o filme em si (principalmente porque o conteúdo é claramente diferente da Moda uma vez que alguém o consome).
Daí veio o nome. Assim como Lírios do Mar não são flores mas sim equinodermos, e ninguém parece ter problema com isso.
Porém, por causa de toda essa confusão de associações (eu também costumo perguntar a estrangeiros por que raios eles fazem essa associação do Lolita Complex com as roupas ultra-femininas), as marcas mantiveram-se distantes do termo. Mesmo se perguntássemos à Murano Megumi do passado, é possível que ela também não quisesse limitar suas coleções à estética Lolita. (particularmente, seria muito fofo ver uma senhora do campo como Miss Marple usando as roupas da Jane Marple).
Assim sendo, podemos dizer que a origem do Lolita está na Jane Marple.
A maior parte das marcas indies que se chamaram de Gothic and Lolita desde os anos 2000 teve seus designers usando Jane Marple em algum momento de sua formação. Eles não decidiram fazer roupas por influência de Comme des Garçon, nem de Vivienne Westood ou Yohji Yamamoto, mas sim do romantismo da Jane Marple. Para essas pessoas, a moda Lolita não tem nenhuma relação com o LoliCon ou Nabokov, mas era um sinônimo do "Jane-ísmo" que se via naquela época.
Além do mais, a Jane Marple foi a base do boom de marcas japonesas indies (DC) que começou nos anos 80. Para a surpresa dos mais jovens de hoje em dia, tanto a Ozone Community quanto a Hysterical Glamour (N/T: ambas são marcas de roupa japonesas) eram consideradas Lolita Fashion. Naquela época, Hiromichi Nakano, designer do VIVA YOU, que varreu o mundo com seu conceito e redefiniu a noção de feminino (girly) na moda dos anos 90, apontou que Lolita era a sua referência na hora de criar roupas, mesmo que o termo fosse uma má escolha.
Se não me falha a memória, Jane Marple foi a primeira a produzir fofocas (bloomers) que não fossem aquelas britânicas usadas durante a era vitoriana.
Mas, como a moda se atualiza, boa parte das marcas foi mudando suas tendências. Jane Marple mesmo chegou a adotar uma postura mais conservadora com suas roupas, mas agora parece estar retornando para o que sempre foi. Para mim, a marca está tentando crescer.
Quando fui à Jane Marple no Laforet Harajuku há alguns anos fui atendido com um sorriso. Por conta disso, pedi uma das saias com pregas e logo fiz meu cartão de membro. Minha caixa foi marcada com um carimbo com a letra J e, enquanto esperava o embrulho ficar pronto, pude ver o catálogo e os próximos lançamentos da marca. Sem falta, voltei à loja várias vezes para ver suas peças.
Sinto que minha consciência está mais leve agora. Se a Jane Marple estiver bem, eu também estarei bem.
Jane Marple, muito obrigado.
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4 comentários
É muito interessante essa leitura, obrigada pela tradução!
ResponderExcluirObrigada pela leitura, Ana! <3
ExcluirOi! Sua tradução foi muito elucidativa. Seria pedir muito para você traduzir a 12ª edição da Nobara? Parecia bastante interessante, mas eu não conseguia entender muito com o tradutor. Além disso, desculpe se houver algum erro, estou usando o tradutor para o português. desde já, obrigado
ResponderExcluirEi!
ExcluirDesculpe a demora para responder, não fui notificada de seu comentário!
Claro, posso tentar acessar ela depois e tentar traduzir aqui. Obrigada pelo pedido!
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