Não é de hoje que venho querendo discutir esse tema e, sem encontrar o melhor modo de fazê-lo, decidi traduzir tudo em um texto aqui no blog.

Competição na Moda Lolita vem de diversas formas. Às vezes, é bem óbvia, institucionalizada, com nome, data e premiação das "melhores" Lolitas. Outras vezes, é velada, embrenhada no psicológico de quem se fere em comparações mentais baseadas em termos de popularidade, físico e condição social.

A competição que temos hoje, costurada em nossas relações sociais, é naturalizada por reforço de uma lógica neoliberal que tudo regula com base no conceito de concorrência. 

Não há esforço coletivo quando a luta é individualizada, e ela o é quando reforçamos (e achamos normal) competirmos entre nós por qualquer que seja a razão. A ânsia por ser "a melhor" mina o comunitário de um hobby que finca raízes justamente por meio do princípio de formação de comunidades de apoio, de práticas grupais, de compartilhamento de informações e de reafirmação identitária.

A Moda Lolita é, antes de tudo, sobre auto-expressão.

Competição de Coords

Uma coisa que nunca fez sentido para mim é competição de coords.

Quando você coloca uma fileira de mulheres sobre o palco (ou na galeria de sua rede social) e garante a um terceiro a possibilidade de definir vencedoras e perdedoras, você está enviando a mensagem de que existe um conjunto de qualidades que definem boas e más expressões.

"Sua individualidade não é boa o suficiente para mim!" 

"O modo como você se veste não é agradável o suficiente para mim!"

"Suas roupas não são boas o suficiente para traduzir o que é belo para mim!"

Um hobby que preza justamente pela possibilidade de externalizar, pelos limites da moda, quem você é, ao permitir que esse tipo de prática se repita, diz, ao nomear vencedoras, que: "Para ser boa, você precisa ser assim".

E, é claro, também como herança neoliberal, temos sempre a ultrarresponsabilização da perdedora por sua falha: 

"Você não se esforçou o suficiente."

"O seu modo de expressar é ruim."

"Se você vestir-se como todas as outras, talvez você consiga ganhar."

Nada disso é sobre as regras da moda. 

O que falo aqui é sobre a definição de mais uma régua do que é belo ou não em uma sociedade que já tem réguas demais para nossa expressão individual.

Concorrência  no hobby traz massificação da expressão individual, ou seja, mina individualidades, reforça padrões estéticos e, acima de tudo, esvazia de sentido aquela prática que, em algum momento, foi sobre vestir-se para você mesma e trazer boas sensações sobre quem você é.

Espero que possamos ter mais espaços de colaboração e compartilhamento de informações na moda em lugar de mais de um palco para competições. A moda é um respiro de alívio sobre sermos quem queremos ser e externalizarmos aquilo que, de outro modo, não poderíamos externalizar. 

 Já competimos em lugares demais.

Eu só quero descansar.